As siderúrgicas brasileiras enfrentarão em 2016 mais um ano de baixa demanda no mercado interno diante do cenário de retração do Produto Interno Bruto (PIB), na que já é considerada a pior recessão vivida pelo Brasil. Esse quadro é reflexo da situação de setores como o automotivo, de bens de capital e construção civil, que vêm sentindo o baque da crise política e econômica que colocou os investimentos no País em compasso de espera. Com isso, não está descartado que mais altos-fornos sejam desligados, à espera de alguma melhora do mercado.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, é a próxima a suspender a produção de um de seus altos-fornos, na usina em Volta Redonda (RJ), o que reduzirá em 30% e produção de aço da empresa.
“O primeiro trimestre de 2016 já começará muito ruim, ainda mais na base de comparação, já que o primeiro trimestre de 2015 foi relativamente bom. O ano será difícil para as usinas, tendo em vista as projeções de queda da atividade industrial”, destaca o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, que prevê para 2016 o segundo ano consecutivo de queda de vendas de aço, projetada pela entidade em 6% em relação a 2015, após retração de mais de 20% no ano passado na comparação com 2014.
Em 2015, as usinas viram suas margens de rentabilidade cada vez mais comprimidas, com Usiminas e CSN amargando prejuízos trimestrais. Menos exposta ao aço plano e com maior diversificação regional, a Gerdau desponta como a mais bem posicionada, ancorada no fato de ter 60% de suas receitas vindas de fora do Brasil, benefício amplificado ainda pela desvalorização do real em relação ao dólar.
No entanto, até mesmo a siderúrgica gaúcha teve que se ajustar ao contexto do mercado. Além da paralisação de aciarias, a companhia já promoveu corte de pessoal e fez uso da suspensão de contratos de trabalho (lay off) e férias coletivas. A companhia já disse que, para a atual demanda, a Gerdau está ajustada, mas está monitorando o andamento do mercado.
O Instituto Aço Brasil (IABr) também prevê mais uma queda nas vendas internas no ano que vem, de 4% na relação anual. O cálculo é de que em 2015 as vendas de aço no mercado doméstico tenham queda de 16,3% na comparação com o volume de 2014, para 18,2 milhões de toneladas. O presidente executivo da entidade, Marco Polo de Mello Lopes, tem afirmado repetidamente que o setor vive atualmente a pior crise de sua história e que, por isso, o número de demissões deverá crescer.
Até aqui, o pior sintoma dessa crise foi a decisão da Usiminas em paralisar a atividade primária em Cubatão, na Baixada Santista. A siderúrgica mineira reportou no terceiro trimestre seu quinto prejuízo consecutivo, de R$ 1,042 bilhão, e um Ebitda ajustado (indicador de geração de caixa) negativo em R$ 65 milhões. O presidente da Usiminas, Rômel de Souza, disse, em reunião com analistas de mercado em novembro, que a companhia entende o impacto social com a paralisação temporária em Cubatão, mas que não há outra alternativa diante do atual contexto do mercado.
Além da decisão que abateu Cubatão, a Usiminas já havia parado fornos diante da demanda enfraquecida. Para o ano que vem, o mesmo caminho deve ser trilhado pela CSN, que deverá suspender a produção do seu alto-forno número dois em Volta Redonda (RJ), o que deverá provocar a demissões de cerca de três mil pessoas. Atualmente, a capacidade instalada de produção da CSN é de 5,6 milhões de toneladas por ano.
Com a paralisia do mercado interno, a estratégia das siderúrgicas deverá ser buscar espaço no mercado externo, na tentativa em encontrar apoio no real desvalorizado. No entanto, a ociosidade da indústria mundial, que chega em cerca de 700 milhões de toneladas anuais, de acordo com a Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês), acaba pressionando os preços internacionais para baixo, trazendo desafios adicionais às siderúrgicas brasileiras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.