Marcada pela polêmica sobre uma possível interferência do Palácio do Planalto, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) traz uma mudança nas justificativas do grupo majoritário de diretores do colegiado, que votou mais uma vez pela manutenção da Selic em 14,25% ao ano. A ata foi divulgada na manhã desta quinta-feira, 28.
Agora, os membros que prevaleceram argumentaram que as incertezas em relação ao cenário externo se ampliaram, com destaque para a crescente preocupação com o desempenho da economia chinesa e seus desdobramentos, além da evolução de preços no mercado de petróleo.
O grupo majoritário – composto pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e pelos diretores Aldo Mendes, Altamir Lopes, Anthero Meirelles, Luiz Feltrim e Otávio Damaso – justificou os votos pela manutenção da Selic considerando que a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, sobretudo mais recentemente, justifica continuar monitorando a evolução do cenário macroeconômico para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.
Para esse grupo, faz-se necessário acompanhar os impactos das recentes mudanças nos ambientes doméstico e externo no balanço de riscos para a inflação, o que, combinado com os ajustes já implementados na política monetária, pode fortalecer o cenário de convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017.
Na ata anterior, esses mesmos membros apenas consideraram monitorar a evolução do cenário macroeconômico até a reunião seguinte do colegiado.
Já o grupo minoritário – composto novamente pelos diretores Sidnei Marques e Tony Volpon – votou novamente pela elevação da Selic em 0,5 ponto porcentual para 14,75% ao ano.
Esses membros do colegiado voltaram a argumentar que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação, e acrescentaram que a elevação da Selic reforçaria o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias.
Ou seja, pode-se interpretar que, para esses diretores, o cenário externo pode vir a ser um problema, mas a inflação já é um problema que precisa ser atacado com mais força.
IPCA
Com o mercado financeiro totalmente desacreditado de que o Banco Central conseguirá entregar a inflação deste ano abaixo do teto de 6,50%, a ata do Copom divulgada na manhã desta quinta informou que a projeção de inflação no cenário de referência aumentou ante a reunião anterior e se situa acima do centro da meta de 4,5%.
O BC não divulga qual a taxa prevista na ata, mas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro, a autoridade monetária revelou que a estimativa estava em 6,2% para o fim deste ano pelo cenário de referência. No RTI, a probabilidade estimada pela instituição de a inflação ultrapassar o limite superior da meta em 2016 subiu de 20% para 41% para esse cenário.
No caso em que o BC usa variáveis de mercado para desenhar seu cenário, a estimativa da autoridade monetária também aumentou, continuando acima do centro da meta. No RTI, por esses mesmos parâmetros, a previsão do BC estava em 6,3% para este ano. No mesmo documento, a chance de estouro da meta neste caso foi calculada em 43% pela autoridade monetária ante 22% da edição anterior.
As informações foram divulgadas nesta manhã por meio da ata do Copom da semana passada, que manteve a taxa básica de juros em 14,25% ao ano. A decisão, pela segunda vez consecutiva, não foi unânime (6×2), com membros do colegiado votando pela alta imediata da Selic em 0,50 ponto porcentual.
A meta é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e está em 4,5% para este ano e também para 2016 e 2017. Em 2017, a margem de tolerância será reduzida dos atuais 2 pontos porcentuais (pp) para cima ou para baixo para 1,5 pp.
No Relatório de Mercado Focus da última segunda-feira, 25, a mediana das estimativas dos analistas para o IPCA de 2016 subiram para 7,23%. No caso do Top 5, a mediana das expectativas para a inflação do ano se situou em 7,92%.
A ata ressalta que o cenário de referência leva em conta manutenção da taxa de câmbio em R$ 4,00 e Selic em 14,25% ao ano. No documento anterior, o BC trabalhava com a cotação do dólar em R$ 3,80. Já o cenário de mercado considera estimativas para câmbio e juros de analistas de mercado às vésperas do encontro da diretoria para definir o rumo da Selic.