O tumulto que terminou com a morte de pelo menos 45 pessoas e deixou 150 feridos no Monte Meron, na Alta Galileia, em Israel, terá repercussões políticas em um momento de grande incerteza após a inconclusiva eleição de março, a quarta em dois anos.
O primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, até agora não teve sucesso em formar uma coalizão governamental. O prazo para que ele costure uma aliança acaba na terça-feira. Se falhar, seus rivais políticos terão a chance de tentar formar uma aliança que pode excluí-lo do poder.
Netanyahu há muito confia em poderosos partidos ultraortodoxos como aliados e precisará do apoio deles se quiser manter vivas as esperanças de permanecer no cargo.
Durante a visita que fez ontem ao Monte Meron, o premiê foi vaiado por dezenas de manifestantes religiosos que culpam o governo pela tragédia. Se o descontentamento se espalhar, isso certamente pode prejudicar ainda mais as perspectivas de Netanyahu.
A tragédia também ameaça aprofundar uma forte reação pública contra os judeus ultraortodoxos. Netanyahu foi muito criticado no ano passado por permitir que a comunidade ultraortodoxa desprezasse as diretrizes de combate à crise sanitária.
O primeiro-ministro permitiu a abertura de escolas e sinagogas e a realização de funerais em massa, tudo que estava vetado para os demais cidadãos. A comunidade ultraortodoxa está entre as mais atingidas pela doença em Israel.
Gideon Rahat, cientista político da Universidade Hebraica e bolsista do Instituto de Democracia de Israel, disse que, nos próximos dias, haverá uma batalha sobre a responsabilidade pelo trágico evento.
Netanyahu pedirá a unidade nacional, enquanto seus oponentes dirão que ele não está mais apto para permanecer no cargo e é hora de mudanças. "Há uma batalha no enquadramento, quem é ou não o culpado", disse Rahat. "Já vemos os sinais disso."
De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde de Israel, as reuniões públicas continuam limitadas a, no máximo, 500 pessoas. No entanto, a imprensa israelense disse que Netanyahu garantiu aos líderes ultraortodoxos que as comemorações ocorreriam mesmo com o risco de uma superexposição dos participantes ao vírus, apesar das objeções das autoridades de saúde pública. A assessoria de imprensa de Netanyahu não respondeu aos pedidos de entrevista para comentar o caso.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>