O salto do preço do petróleo na esteira das dúvidas sobre o fornecimento da commodity por conta da guerra na Ucrânia tem puxado para cima o valor da maioria das empresas de óleo e gás em todo o mundo, exceto por um pequeno grupo de companhias, caso da brasileira Petrobras. Enquanto a gigante Chevron, por exemplo, ganhou quase 17% de valor desde o início do confronto deflagrado pelo russo Vladimir Putin, a petroleira brasileira vai na direção contrária e cai 11%, conforme levantamento da Economatica, elaborado a pedido do <b>Estadão</b>, com as cotações entre os dias 23 de fevereiro e 15 de março.
O estudo considera o preço das ações em dólar e faz também o ajuste dos proventos pagos no período, caso dos dividendos, considerados reinvestimentos para o cálculo. Isso significa que o porcentual se trata do retorno total dos papéis nesse período, segundo Einar Rivero, que elaborou o levantamento.
Com as petroleiras fora da Rússia ganhando protagonismo diante das sanções econômicas contra Putin, grande parte das empresas está valendo mais desde então. Das 100 petroleiras inclusas na análise, feita considerando as cotações das ações das companhias até o dia 15 de março, um terço registra queda em seus valores de mercado desde o início do combate. E apenas oito têm um retorno negativo acima de 10% – com a Petrobras nesse grupo.
Neste mês, por exemplo, o banco norte-americano JPMorgan estimou que, caso as exportações russas sejam cortadas pela metade, o barril do petróleo poderia ir até US$ 150. Nesse sentido, há poucos dias, os Estados Unidos anunciaram que suspenderiam a importação de óleo e de gás da Rússia.
Sem sinal de trégua na guerra no Leste Europeu, a cotação do barril (Brent) fechou em alta de 7,12%, ontem, a US$ 115,62. As ações da Petrobras tiveram altas de 3,76% (PETR4) e 3,35% (PETR3), que recompõem parte das perdas ocorridas no período do estudo, que vai até 15 de março.
<b>TEMOR DO MERCADO</b>
A razão principal pela cautela dos investidores da petroleira brasileira, controlada pelo governo federal, refere-se às preocupações em torno de eventual ingerência política e interferência nos preços dos combustíveis, com o sinal de alerta reforçado sobre as recentes dúvidas em relação a mais uma troca do presidente da petroleira, Joaquim Silva e Luna, após fala do presidente Jair Bolsonaro (PL). Para combater o ruído, a Petrobras tem vindo a público defender a paridade de preços com a cotação internacional.
"Investidores da estatal mantêm o nível alto de risco por algum sinal de interferência na política de preços da empresa, que segue a paridade internacional com o petróleo, e segundo estimativas ainda segue defasado entre o que é praticado pela petroleira, em relação à paridade de importação", comenta Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
<b>PRESSÃO ANTERIOR</b>
Ilan Albertman, analista de pesquisa da Ativa Investimentos, aponta que a Petrobras também negocia na Bolsa brasileira abaixo de seu ápice histórico, assim como outras petroleiras com atuação global. Isso porque, explica ele, as empresas estavam, antes da guerra, pressionadas por investidores por conta da expectativa de transição energética, com a tendência de os combustíveis limpos ganharem mais espaço no mercado, com a temática ESG (sigla em inglês para "ambiental, social e governança") ganhando força.
Para o chefe de análise de ações da Órama, Phil Soares, o atual cenário poderá mudar as perspectivas e as metas em relação ao processo de transição para o uso de energias mais limpas, para algo mais pé no chão. Na sua visão, depois da escalada da inflação em todo o mundo por conta da menor oferta de petróleo, a análise ESG passará a levar em conta o lado social, exatamente por conta do aumento dos preços provocados e efeito no poder de compra da população.
Josias de Matos, estrategista da Toro Investimento, afirma que, no caso da petroleira, mesmo diante do aumento do preço, existe uma exigência dos investidores por um prêmio de risco. "O governo é o maior acionista da Petrobras, e isso faz com que a perspectiva de intervenção do Estado aumente. O combustível é um dos vilões da inflação, e no passado já vimos isso acontecer", diz.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>