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A intolerância não vencerá

Embora bastante comentados, dois fatos que fizeram parte do noticiário nas duas últimas semanas merecem a nossa reflexão: as infelizes declarações do deputado Jair Bolsonaro em um programa de televisão e o massacre que vitimou adolescentes em uma escola municipal no Rio de Janeiro. Ambos os episódios têm como essência a intolerância, um sentimento comum, odioso, perigoso e que, infelizmente, tem crescido cada vez mais em todos os cantos do planeta.


As declarações do deputado Bolsonaro vão além de uma simples opinião pessoal. Na verdade, revelam a existência de uma permanente não aceitação das diferenças, reproduzindo o pensamento de uma parcela da sociedade. Essa intolerância tem se manifestado em preconceitos de cor, etnia, religião, origem e orientação sexual, como temos visto em constantes e repudiáveis ataques a homossexuais, negros e nordestinos, entre outros grupos.


O caso de Realengo, cuja motivação ainda está sob investigação, não foge à essência da intolerância, independentemente da existência ou não de uma possível patologia esquizofrênica e psicopata do autor dos disparos.


Em carta, e de acordo com a descrição de pessoas próximas, o assassino passava horas na internet. Suas pesquisas terminaram por construir um ideário de vida confuso, calcado em fragmentos e dogmas religiosos disseminados principalmente pelo mundo virtual e que, perigosamente, pregam a salvação a partir de uma negação do diferente e da exclusão do outro.


Esses episódios nos deixam um gosto amargo na boca e uma sensação de impotência. Mas são um alerta de que precisamos fazer algo rápido para que o Brasil não apareça em uma lista mundial dos países sem tolerância.


A mídia, especialmente a televisão, tem um papel fundamental para aprofundar essas discussões. Em busca de audiência, muitos programas fomentam o sensacionalismo e manipulam informações. Deveriam ser substituídos por atrações com foco na prestação de serviços e objetivos concretos de produzir na sociedade reflexos sobre valores mais íntegros.


Quando era deputado, o guarulhense Orlando Fantazzini liderou na Câmara Federal uma discussão sobre o papel das televisões que, lamentavelmente, foi enterrada pelo poder econômico das grandes empresas do setor. O momento atual é propício para retomarmos esse debate, com a participação da sociedade e dos meios de comunicação. É um passo importante para que não tenhamos, daqui a alguns anos, uma sociedade doente e intolerante como já vemos em outras partes do mundo.


 


José Luiz Guimarães


Vereador (PT) e líder do Governo na Câmara. Escreve às quintas-feiras nesta coluna


 

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