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A volta das confusões de Mário Fofoca

Ele é um detetive particular atrapalhado, desajeitado e cheio de tiques nervosos. Com gosto duvidoso para se vestir, não abre mão de seu terno xadrez e de alguma gravata pouco discreta – e, aos trancos e barrancos, tenta solucionar os casos para os quais é contratado. Criação de Cassiano Gabus Mendes para a novela Elas Por Elas, de 1982, na Globo, Mário Cury, popularmente conhecido como Mário Fofoca, ganhou personificação memorável do ator Luis Gustavo.

O personagem fez tanto sucesso na novela que inspirou a concepção de uma série só para ele, Mário Fofoca, que foi ao ar em 1983, pouco depois do fim da novela. É o que hoje se convencionou chamar de spin-off, quando uma produção deriva de outra – caso, por exemplo, da série Better Call Saul, cujo protagonista saiu de Breaking Bad. A série Mário Fofoca volta a ser exibida a partir deste sábado, 1.º, às 22h, no canal Viva.

E, diferentemente da novela, onde ele agia sozinho, no seriado, Mário Fofoca passou a ter um parceiro de investigações, Donato Freitas (Osmar Prado). Mas as diferenças não pararam por aí. Apesar de a série trazer nos créditos a criação de Cassiano Gabus Mendes, o autor não teve nenhuma participação na série. Com 17 episódios, foi escrita por Bráulio Pedroso, Carlos Eduardo Novaes, Expedito Faggioni e Luis Fernando Verissimo. “A série não tem nada a ver com a novela”, explica Luis Gustavo, em entrevista ao Estado. “O Cassiano é autor de novela. O Verissimo tem textos maravilhosos, mas a proposta era outra. Colocaram o Osmar Prado, éramos uma dupla, assim como colocaram o Plínio Marcos no Beto Rockfeller.”

O primeiro episódio mostra o detetive mudando de São Paulo para o Rio. E os pais dele o acompanham. A mãe, Raquel (Ana Ariel), não gosta da profissão do filho, enquanto o pai, Evilásio (Felipe Carone), o admira. No Rio, Mário revê um antigo amigo, Donato Freitas, que vira seu parceiro nas investigações. O primeiro caso é encomendado por um empresário, que quer que a dupla siga sua mulher.

E pensar que Luis Gustavo nem estava nos planos iniciais do amigo Cassiano Gabus Mendes para o papel na novela. Um dia, como era habitual na rotina deles, os dois se encontraram. Cassiano contou para Luis Gustavo que teve a ideia de uma história após ouvir a conversa de duas mulheres em uma farmácia, e elas se recordavam do tempo que estudavam juntas no mesmo colégio, tinham curiosidade de saber por onde andava o restante da turma. Daí nasceu o mote de Elas Por Elas, que conta justamente a história de sete amigas da época do colégio que se reencontram anos depois.

“Sempre participei, na medida do possível, das novelas do Cassiano. E perguntei para ele: como é que eu entro nessa história?. Ele disse: você, desta vez, não entra. Há várias novelas dele que eu não participei como ator, mas sempre estive do lado dele escrevendo, dando palpite”, diz o ator. Ele lamentou a decisão do autor. Foi embora de carro, freou, deu marcha à ré e perguntou para o amigo: e se ele fizesse o detetive que ele havia lhe falado? Cassiano, a princípio, não se convenceu. Ficou de pensar no assunto e, no fim, aceitou. “Bolei o personagem para fazer aquele detetive. Na verdade, ele não era um detetive atrapalhado, mas incompetente, de quinta categoria. Cassiano ficou enlouquecido com o personagem e aí começaram as coisas.” E, de personagem pensado apenas para aparecer em poucos capítulos, Mário Fofoca reinou na trama com suas confusões hilárias. O personagem ressuscitou novamente, não faz muito tempo, no remake da novela Ti-ti-ti, de Maria Adelaide Amaral, em 2010.

O ator buscou alguma referência para compor o personagem? Talvez em Peter Sellers e seu inspetor Clouseau? “Dificilmente fiz algum personagem que não tenha tido como exemplo algum outro. Em Beto Rockfeller, não copiei, mas me baseei em Vittorio Gassman, em Il Sorpasso. O Mário, não: me agarrei na própria história do Cassiano”, conta o ator, 82 anos, que atualmente está gravando a nova série de humor de Miguel Falabella, Brasil a Bordo, que deve estrear no começo de 2017, com atores como Ney Latorraca e Arlete Salles também no elenco. E completa: “Mário Fofoca foi um dos poucos personagens que fiz à custa do autor”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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