Brasil, Argentina e Venezuela são os países que estão puxando para baixo os índices de crescimento da América Latina, afirma relatório do Banco Mundial sobre a região divulgado hoje em Washington. A previsão da entidade é de que o Brasil tenha expansão de 0,5% neste ano, abaixo da mediana de 2,7% de 31 nações latino-americanas.
Para reverter a tendência de baixa expansão, o País precisa construir políticas que estimulem o investimento e acabem com os gargalos que restringem a atividade econômica, afirmou o economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Augusto de la Torre.
“Muito da história de crescimento do Brasil esteve ligado ao consumo. Isso não foi ruim, porque o consumo foi parte da história do crescimento da classe média e da redução da pobreza. Mas, no longo prazo, a economia não cresce com base no consumo, mas com base no investimento e na produtividade”, declarou Torre. Segundo ele, o País foi um dos que mais conseguiram reduzir a desigualdade na última década. O desafio agora é criar as condições para que esse processo se mantenha no futuro.
Dos 31 países analisados, 16 devem ter em 2014 crescimento acima da mediana de 2,7%. Nesse grupo estão Panamá, Bolívia, Colômbia, Paraguai, República Dominicana, Nicarágua, Guiana, Equador e Suriname, que terão expansão superior a 4%, de acordo com o Banco Mundial. O Brasil aparece em seguida, entre os países de pior performance na região. Depois vêm Venezuela, Argentina e Barbados, que devem registrar contração do PIB.
Na avaliação de Torres, o baixo ritmo da expansão latino-americana coloca em risco a manutenção das conquistas sociais da última década, quando o crescimento foi estimulado pelo alto preço das commodities e pelas baixas taxas de juros em todo o mundo. De 2002 a 2012, a região conseguiu reduzir a pobreza extrema pela metade e duplicar o tamanho de sua classe média.
Quando for retomado, o ritmo de crescimento dos latino-americanos deve ser inferior ao registrado no passado recente, a menos que haja reformas “vigorosas” para aumento da produtividade, afirmou Torre. O grande desafio para todos os países será manter o processo de redução da desigualdade em um cenário de expansão menos acelerada.
Segundo o economista, a geração de emprego – mais que o crescimento dos salários – foi o principal fator que gerou a queda da desigualdade. Para que isso se mantenha no longo prazo, é necessária uma expansão do PIB.
“O Brasil está em meio a um debate fundamental sobre como reconstruir o crescimento”, ponderou Torre. Além de políticas que “entusiasmem os investidores”, ele defendeu a modernização da infraestrutura, o fortalecimento da educação e da inovação e reformas microeconômicas que aumentem a produtividade. “É uma agenda supercomplicada.”