O segmento de acesso à Bolsa, o Bovespa Mais, pode ganhar novo fôlego com recentes medidas de incentivo à entrada de pequenas e médias empresas no mercado de capitais brasileiro e ainda a expectativa de novas listagens no ano que vem. Com isso, a expectativa é de que novas companhias comecem a engrossar o rol desse segmento, também como alternativa para saída de investidor financeiro.
O BNDESPar, braço de participações de empresas do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, prevê realizar ao menos a listagem de uma companhia de seu portfólio no Bovespa Mais em 2015. “Todas as iniciativas já realizadas pelo governo e pela BM&FBovespa para o crescimento do mercado de acesso, com redução de custos, são de grande importância, mas é importante ter em mente que o seu ritmo estará fortemente atrelado à conjuntura macroeconômica nacional e ao próprio desempenho do Novo Mercado, principal segmento da Bovespa”, afirma Márcio Spata, chefe do departamento de gestão de participações da área de capital empreendedor do BNDES. Neste ano a bolsa brasileira ainda não teve nenhuma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Com cerca de 35 companhias de médio porte em sua carteira, o BNDESPar tem participação em seis das noves companhias listadas hoje no Bovespa Mais: Altus, BIOMM, CAB Ambiental, Nortec Química, Quality Software e Senior Solution, de acordo com informações que constam no site da Bolsa.
A Senior Solution, empresa de tecnologia, por exemplo, ingressou no Bovespa Mais em 2012 e no ano seguinte resolveu partir para um IPO. A companhia levantou R$ 57 bilhões na oferta, com a participação apenas de 13% de estrangeiros, que costumam ficar com grande parte das ações nos IPOs no Brasil. O BNDESPar, acionista da Senior, vendeu parte de suas ações na oferta. “Nós estávamos pensando no IPO desde 2007 e em 2012 vimos que valeria a pena realizar a oferta em duas etapas”, afirma o presidente e fundador da companhia, Bernardo Gomes, lembrando que o mercado de capitais foi a saída que a companhia encontrou para manter a sua estratégia de crescimento no mercado, via aquisições.
Gomes conta que a experiência da Senior acabou chamando a atenção de outras empresas, que passaram a buscar informações sobre os trâmites e custos da listagem. Com isso, a companhia que já tinha um braço de consultoria – a Controlbanc – focada em gestão de negócios, principalmente para instituições financeiras – ganhou um novo nicho de atendimento após o IPO: a empresa passou a se dedicar também a prestar consultoria para companhias interessadas na listagem no Bovespa Mais, em movimento prévio à emissão de ações. Só no ano passado, conta o presidente da Senior, a empresa deu consultoria para outras duas empresas que efetuaram a listagem. “Depois houve um desaquecimento por conta do cenário macro, mas o interesse das empresas voltou a ficar mais aquecido com as medidas de incentivo”, frisa.
Entre outros incentivos da Medida Provisória 651, publicada em julho, está a isenção do Imposto de Renda (IR), por um determinado período, para as pessoas físicas que comprarem ações de empresas com esse perfil. A Senior Solution foi uma das sete empresas já com ações em bolsa que foram contempladas com as medidas. “Tivemos um conjunto de medidas importantes, que realmente animam.
Antes muitas companhias achavam que não tinham chance de realizar um IPO, agora existe”, afirma Cristiana Pereira, diretora comercial e de desenvolvimento de empresas da BM&FBovespa. A MP estabeleceu ainda a criação de fundos de ações destinados a ações dessas companhias, o que deverá criar demanda por esses papéis e funcionar como mais um atrativo para essas companhias virem a mercado. Somado a isso, o BNDES já havia aprovado um programa que injetará até R$ 1 bilhão em companhias que realizarem IPO no Bovespa Mais.
O Bovespa Mais foi criado em 2005, mas a primeira listagem ocorreu apenas três anos depois. Desde o princípio a ideia era ter um ambiente que funcionasse como uma incubadora de empresas médias que vislumbravam um IPO como fonte de recursos para crescimento futuro, ou mesmo para a saída de um investidor. Como é possível uma empresa se listar no Bovespa Mais sem emitir ações, esse segmento foi estruturado para funcionar como uma vitrine para as companhias com interesse de se financiar no mercado em algum momento no futuro. Esse caminho ajudaria a viabilizar uma oferta de ações.
“Todas as companhias investidas pela BNDESPar têm o compromisso de fazer um IPO no Bovespa Mais ou no Novo Mercado (empresas de maior porte) após um determinado prazo previsto no Acordo de Acionistas”, afirma Spata, do BNDES. Para ele, o procedimento de listagem pré-oferta é importante já que funciona como uma preparação para um futuro IPO.
Com os olhos voltados para as potenciais candidatas de buscarem financiamento no mercado de capitais, a BM&FBovespa já mapeou cerca de 200 empresas que podem realizar uma oferta inicial de ações, sendo 80 delas com perfil para ingressar no Bovespa Mais. “Temos trabalhado com essas empresas e isso poderá ser revertido em alguma operação”, destaca Cristiana, da Bolsa. De forma a incentivar, a chegada dessas companhias ao Bovespa Mais, a Bolsa já reduziu os custos para essa listagem e isentou, por exemplo, a taxa de liquidação.
Cristiana confirma o aumento da procura das empresas de médio porte em busca de informações desde a publicação da Medida Provisória 651. “As empresas estão mais interessadas em falar sobre o assunto e depois da MP acreditamos que elas podem acelerar um pouco (o acesso à Bolsa)”, disse a diretora da Bolsa. De 125 aberturas de capital dos últimos 10 anos, apenas 11 foram de empresas de pequeno ou médio porte.
Os incentivos podem fazer com que o segmento de acesso da Bolsa saia na monotonia e comece a trilhar o mesmo caminho de outras experiências internacionais, que lhe serviram de inspiração. A Alternative Investment Market (AIM), da Inglaterra, foi um dos modelos de mercado de acesso que serviram de referência para a criação do Bovespa Mais. A AIM, criada em 1995, já serviu como ponte para mais de três mil companhias se financiarem no mercado de capitais.