A trajetória de queda na taxa básica de juros (Selic), aliada à maior competição entre os bancos, cria um ambiente confortável para o produtor tomar crédito rural, segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast Agro. “Caminhamos para um custo menor de financiamento agrícola embasado pelos sucessivos cortes na Selic. Até mesmo se houver uma mudança nas decisões do Banco Central e os juros passarem a subir, isso não deve frear a concorrência já instalada entre as instituições financeiras”, afirmou Fábio Silveira, sócio da consultoria MacroSector.
No contraponto, o fato de instituições financeiras privadas não estarem tão habituadas a lidar com o produtor rural, e vice-versa, é um dos fatores capazes de elevar o risco dessas operações. O diretor técnico da consultoria IEG FNP, José Vicente Ferraz, acrescenta que as quedas na Selic – que está hoje em 6,5% ao ano – tornam os juros livres mais interessantes, mas não significam que o produtor vá sair totalmente dos financiamentos a taxas controladas.
“Não acredito que os juros livres cairão abaixo das tarifas controladas pelo governo (hoje em 8,5% ao ano), então, enquanto houver juro barato, o produtor vai continuar tomando”, afirmou. Para ele, um motivo ainda mais relevante para fomentar a migração para os bancos tradicionais é a restrição na oferta de crédito por parte do governo. “O País tem dificuldades fiscais e não sabemos até onde vai a capacidade de financiamento para a agropecuária.”
Produtor de cana-de-açúcar e limão em Bebedouro (SP), o agricultor Luiz Augusto Marino comemorou a simplificação no processo de tomada de crédito rural ocorrida este ano e o fim da burocracia para os empréstimos. Até o ano passado, com a dependência do crédito com juro controlado pelo governo, Marino precisava pagar taxas de projeto e de administração, contratar um seguro e registrar a operação em cartório para obter recursos para suas lavouras.
Este ano, levantou R$ 61,72 mil apenas assinando uma nota promissória rural no momento da compra de defensivos e fertilizantes, na Coopercitrus Cooperativa de Produtores Rurais, na cidade do interior paulista. O valor se tornou um empréstimo a ser pago com um prazo entre um ano e um ano e meio. Os juros de mercado são de 8,5% ao ano, os mesmos da média do crédito rural com juro controlado pelo governo. “Além disso, é uma compra à vista, com preços mais baixos. No ano passado, as compras a prazo, financiadas, tinham mais 8% de incremento nos preços”, disse Marino.
Segundo a Coopercitrus, essa operação de crédito é chamada de intercooperação, já que a nota promissória rural é descontada na Credicitrus, braço de crédito da cooperativa para o qual o produtor pagará o financiamento. O aumento dessa operação só se tornou possível por causa da queda da Selic, segundo o presidente da cooperativa, José Vicente da Silva. “O recuo na Selic e a burocracia do repasse nos financiamentos oficiais mudaram completamente a tomada de crédito”.
O gerente de Análise Econômica do Banco Cooperativo Sicredi, Pedro Ramos, concorda que a burocracia para adesão às linhas do Plano Safra afasta a demanda dos produtores rurais. Ele confirma que os cortes na Selic têm feito com que as taxas oferecidas pelas instituições financeiras fiquem cada vez mais semelhantes às taxas do crédito oficial. “Ainda temos uma procura grande para tomada de crédito via linhas a juros controlados, mas está se intensificando a iniciativa dos produtores na direção dos juros livres, algo que não se via antes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.