A intenção de compras das famílias brasileiras neste Dia das Crianças atingiu o menor patamar em oito anos. De acordo com um quesito especial apurado na Sondagem do Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV), apenas 7,1% dos consumidores devem ampliar os gastos com presentes para os pequenos (contra 9,4% no ano passado), enquanto 15,9% devem reduzir a lista (ante 11,0%).
O indicador que mede a intenção de compras caiu 7,3%, para 91,2 pontos em 2014, o menor patamar desde 2007, quando a pergunta passou a ser feita nas sondagens do mês de setembro. “As famílias realmente estão com um nível muito baixo de intenção de compra”, disse a economista Viviane Seda, responsável pelo levantamento. Segundo ela, os brasileiros ficaram mais endividados nos últimos meses, além de se mostrarem mais preocupados com o mercado de trabalho e com a inflação.
Consumidores de todas as faixas de renda se mostraram mais cautelosos, mas o aperto mais intenso deve ocorrer entre as famílias mais humildes. Entre os domicílios com renda média mensal até R$ 2,1 mil, a queda na intenção de compra foi de 11,6%, para 84,7 pontos. “As faixas de renda mais baixa têm menor poder aquisitivo e sofrem mais com a situação”, explicou Viviane. “As famílias de renda mais alta, apesar de também terem incertezas, têm mais margem para decidir o consumo.”
Também houve queda de 4,5% no preço médio do presente em relação ao ano passado. Novamente, o corte foi mais intenso nas famílias cuja renda mensal é menor. “É um gasto supérfluo. Para poder consumir, elas procuram itens com preços mais baixos. Mas com certeza essa classe de renda deve consumir pouco este ano”, disse a economista.
Para encaixar a data festiva no orçamento, as famílias também devem mudar a opção de presentes. Os brinquedos em geral, que correspondiam à decisão de 65,7% dos consumidores no ano passado, passaram a figurar na lista de 50,5% – o menor nível desde pelo menos 2010. “Esses itens não estão tendo uma inflação muito alta, mas existem brinquedos com preços muito altos, o que exige planejamento”, comentou o economista André Braz, um dos responsáveis pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV.
Na contramão, os itens de vestuário ganharam preferência, passando de 15,5% em 2013 para 24,5% neste ano. Em 12 meses até setembro, as roupas infantis acumularam alta de 4,24%, de acordo com dados do IPC. A taxa é menor do que a inflação média (6,97%) e do que a alta de preços de uma cesta de itens ligados ao Dia das Crianças, calculada em 8,48% pela instituição. A taxa é mais elevada porque a lista inclui serviços como restaurantes (8,88%), sorvetes fora de casa (9,99%), show musical (18,50%) e teatro (17,49%).
Há algumas semanas, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou previsão de crescimento de 3,1% nas vendas relacionadas ao Dia das Crianças em 2014 em relação ao ano passado. Se confirmado, será o pior desempenho na data desde 2004.