Embora a Prefeitura de São Paulo mantenha o discurso inclusivo que caracterizou o programa De Braços Abertos, são as ações de repressão ao tráfico, feitas pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), que mais se intensificaram na região da cracolândia nos últimos meses.
Dados da própria administração municipal mostram que o número de guardas-civis na área mais do que dobrou: o efetivo passou de cem agentes a cada 24 horas para 250. Ao redor do chamado fluxo, a aglomeração de pessoas consumindo as pedras de crack, a GCM montou três círculos de isolamento, com objetivo tanto de separar os usuários quanto evitar que voltem a ser armadas barracas.
Ao passar por esses círculos, pessoas com mochilas, carrinhos ou outros bens que possam esconder quantidades maiores de crack ou serem usados para a construção de barracas são revistados.
O enfoque repressivo do De Braços Abertos é reflexo do último grande confronto entre dependentes e o poder público, em 29 de junho. Naquela data, foram usadas bombas de gás para dispersar o fluxo. O comandante da GCM, inspetor Gilson Menezes, confirma a intensificação das ações de repressão. Mas afirma que elas não significam nem aumento da tensão com usuários nem detrimento das demais ações do De Braços Abertos. “O programa é um tripé: assistência social, saúde e segurança. Intensificamos nossa presença, mas sem abrir mão das demais ações”, afirma.
Embora Menezes argumente que o aumento da presença da guarda não tenha tornado as relações na cracolândia mais tensas, a situação de conflito é constante. Há uma semana, a reportagem pôde presenciar um dos usuários de crack cadastrados no De Braços Abertos, Ricardo Rodrigues da Silva, de 39 anos, sendo puxado pela gola por três guardas-civis durante uma revista e pressionado contra uma grade em uma ação. A Prefeitura informou que o caso está sendo apurado.
Ações. Nesse um ano e meio de operação do De Braços Abertos, a Prefeitura diz que atendeu 882 pessoas. Atualmente 505 fazem parte do programa, incluindo oito crianças.
As demais pessoas, segundo a gestão Fernando Haddad (PT), deixaram o programa por “diversos motivos”, como retorno à família, transferência para outros programas, afastamentos e desistências. “Vale lembrar que o objetivo do programa é a redução de danos para os indivíduos e para a sociedade”, diz nota da Prefeitura. Não foram informados dados sobre encaminhamento de pacientes a outros programas de tratamento.
Com base em questionários dos prontuários dos dependentes, a Prefeitura diz que entre 70% e 80% dos atendidos pelo programa reduziram o consumo de crack. Já o fluxo, que já teve 1.200 pessoas, hoje tem entre 300 e 450 pessoas, dependendo do horário e do dia, também segundo estimativa da Prefeitura.
A secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, Luciana Temer, diz que a permanência da existência do fluxo não indica uma estagnação da capacidade de ação da Prefeitura na região. “As ações não perderam intensidade”, garante. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.