Os efeitos do período eleitoral no mercado brasileiro, levando a uma crescente volatilidade, têm provocado um aumento dos volumes de derivativos, levando a níveis recordes de negócios no segmento BM&F da Bolsa. A procura por esses instrumentos tem se concentrado nos dias de vencimento no curto prazo, exatamente entre o primeiro e segundo turno e após o desfecho do pleito eleitoral.
Gestores afirmam que a grande volatilidade tem gerado oportunidades de ganho e que abriu espaço para se aproveitar as diferenças de preços via arbitragens. Em outros casos, destacam, a atuação no mercado de opções, por exemplo, tem sido a estratégia para a proteção de uma posição. “Há muita incerteza e o uso tem dependido da aposta do gestor ou de onde ele vê um risco maior”, disse uma das fontes.
“O mercado vem se movimentando muito pelas pesquisas e os negócios estão muito direcionados pelas expectativas do resultado da eleição. A volatilidade aumentou muito e tem gerado opções de investimentos via derivativos”, destaca a executiva da Guide, Aline Sun. Ela lembra que um dos benefícios do uso dos derivativos é que ele permite maior agilidade do investidor para se movimentar, para captar de forma mais eficiente os movimentos de mercado.
A Bolsa tem informado sobre os recordes de negócios no segmento BM&F desde meados de agosto. O último aconteceu no dia 12 de setembro, na semana passada, quando 292.669 negócios foram feitos no segmento BM&F. O recorde anterior era de 261.314 negócios, quatro dias antes. No dia 12, pela manhã, o Ibope divulgava pesquisa de intenção de voto para presidente.
Na XP Investimentos, por exemplo, a opção de venda do Índice Bovespa tem sido utilizada para estrutura de proteção da carteira dos clientes, conta o sócio-diretor, responsável pela corretora de varejo, Raony Zeferino. Segundo ele, no entanto, o uso dos derivativos não se restringe a proteção de carteira dos investidores. “Tanto investidor local quanto estrangeiro tem usado para se proteger, mas também para especular”, destaca, apontando que há uma concentração nos vencimentos em outubro e dezembro.
Juros
Um gestor que preferiu não ser identificado destaca que, no momento, as apostas não têm se concentrado em uma única direção e que está havendo um grande crescimento de volumes do mercado intraday. No entanto, até semana passada, conta a fonte, havia grande aposta para a queda dos juros, por exemplo, mas que muitos participantes já zeraram essa posição. “O mercado estava bem posicionado para a queda das taxas de juros até o meio da semana passada e na quinta-feira, começou a ocorrer uma zeragem forte das posições vendidas, com o atingimento de stop na sexta-feira, levando muitos participantes a zerar posições”, disse.
Essa aposta de queda de juros trabalhava com a maior possibilidade de vitória da candidata do PSB, Marina Silva, mas na semana passada pesquisas apontaram melhora de Dilma nas intenções de voto. “Agora, com relação a qual direção ou onde (os investidores) estão apostando, fica difícil dizer, porque muita gente está evitando ficar posicionado, aumentando o giro nas operações de day-trade”, destaca o gestor.
Além da indefinição do cenário eleitoral, a fonte diz que há outros fatores que estão contribuindo para aumentar ainda mais o cenário de volatilidade, levando, assim ao crescimento substancial do uso de derivativos, como, por exemplo, a redução da perspectiva do rating de crédito do Brasil pela agência de classificação de riscos Moodys, a possível mudança de discurso do banco central (FED) dos Estados Unidos e a esperada saída da Escócia do Reino Unido, por exemplo.
“Houve uma série de notícias ao longo das últimas duas semanas trazendo mais volatilidade para os mercados e, consequentemente, aumentando o volume de transações, em busca de oportunidades de ganho, em função de distorções e hedge para proteção”, disse o gestor.