O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli voltou a defender que a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, se deu em virtude da estratégia da companhia de buscar alternativas de refino no exterior. Esse posicionamento foi apresentado em depoimento à CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira, 12.
Questionado sobre Abreu e Lima, Gabrielli repetiu que, ao contrário de denúncias publicadas na imprensa, não faltaram estudos prévios. “Não há verdade em dizer que a Petrobras fez a Abreu e Lima sem planejamento”, disse, apesar de admitir que os planos para a refinaria não seguiram valores internacionais.
Segundo Gabrielli, na estratégia pensou-se em fazer refinarias no Ceará e em Pernambuco, mas que em Pernambuco havia “outra lógica, pensada desde antes”. Ele afirmou que a ideia, à época, era “entrar na Venezuela”. Ao final, nem a estatal venezuelana (PDVSA) tomou parte de Abreu e Lima, nem a Petrobras ingressou na Venezuela.
O ex-presidente da estatal alegou que o projeto de Abreu e Lima foi afetado por mudanças no câmbio e por “custos adicionais” de se fazer uma refinaria no Nordeste. “Fixou-se um valor genérico para a refinaria de Abreu e Lima. Depois que se viu que os custos estavam acima do previsto. Foi necessário rever estratégias entre partícipes e mecanismos de redução de custo”, explicou.
Sobre irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em relação a Abreu e Lima, Gabrielli respondeu que a “ampla maioria” de irregularidades apontadas em relatórios do TCU são investigadas e esclarecidas depois, no próprio tribunal, como não sendo irregularidades. “Nenhum dos sete processos no TCU (sobre Abreu e Lima) têm conclusão ainda”, argumentou.
Gasene
Gabrielli também afirmou que a Gasene não é uma empresa de fachada. Ao ser questionado sobre o apontamento do Tribunal de Contas da União (TCU) em tal direção, o ex-presidente disse que não é definitivo e que o tribunal esta inclusive revendo isso. Ele esclareceu que a rede de gasodutos, que iria da Bahia ao Sudeste, não teve o financiamento avaliado pelo Conselho de Administração, porque essa competência não caberia ao colegiado.
Ao ser perguntado pelo deputado Bruno Covas (PSDB-SP) sobre depoimento de Pedro Barusco, dizendo que houve pagamento de propina no contrato da Gasene, Gabrielli disse apenas que viu pela imprensa mas que não tinha conhecimento da irregularidade.
Gabrielli também respondeu a questionamentos sobre o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Disse que hoje, pelo que lhe consta, o projeto se reverteu apenas em refino, com 82% concluído, e a parte de complexo petroquímico foi deixada de lado.
SBM
No depoimento, Gabrielli disse não conhecer Julio Faerman, suposto representante da holandesa SBM envolvido no pagamento de propinas. O ex-diretor da estatal que teria tido contato com Faerman, Renato Duque, Gabrielli disse conhecer há nove anos.
Ao ser perguntado pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) sobre a holandesa SBM, Gabrielli também argumentou que havia suspeitas sobre a companhia holandesa à época de sua presidência. “No meu tempo, não tinha corrupção. A denúncia sobre a SBM Offshore foi posterior à minha saída da presidência da Petrobras.”
Gabrielli subiu o tom de voz ao ser pressionado por Sá e disse que o “nobre deputado precisa se informar um pouquinho mais”. O deputado então reagiu aos gritos e a campainha soou para controlar os ânimos.
Barusco
Ele negou responsabilidade de indicar Pedro Barusco para o cargo de gerência na estatal. Segundo Gabrielli, a decisão de indicá-lo foi da diretoria, mas ele como presidente era membro e não respondia por todo o corpo diretor. “Tomávamos de 40 a 60 decisões por semana, não tinha como acompanhar todas.”
Disse que à época Barusco era a pessoa mais indicada para assumir o cargo e não havia suspeitas de corrupção sobre ele, portanto não havia motivos para vetá-lo. Questionado se hoje admite que Barusco é corrupto, argumentou que o ex-gerente mesmo admitiu ter se corrompido. “Eu não preciso admitir, ele confessou”, argumentou exaltado.
Na sequência, o ex-presidente da Petrobras foi questionado sobre a Sete Brasil e disse que a companhia foi criada para dar suporte às crescentes operações do pré-sal, que exigiam estaleiros e sondas.
Gabrielli afirmou que a eventual falência da Sete Brasil deve ter impacto na economia, com fechamento de vagas de trabalho. “Se a Sete Brasil quebra, é preciso saber a implicação para os estaleiros. Provavelmente, levará à quebra dos estaleiros também e, portanto, você não vai criar emprego e renda do pré-sal.”
Gabrielli insistiu que “não tinha a menor condição de saber” de irregularidades que passaram pelos ex-diretores Nestor Cerveró, Renato Duque e pelo gerente Pedro Barusco. Ele afirmou ainda ter tido uma relação “estritamente profissional” com essas pessoas citadas nas denúncias da operação Lava Jato.
“Minhas relações pessoais com Duque, Barusco e Nestor nunca passaram das reuniões”, disse em trecho depoimento. “Não tem como você saber que o cara está roubando”, complementou. “Criamos todos os mecanismos que a empresa pode criar para averiguar o que acontecia. Há muita ilação e falta de fundamento nas denúncias”, afirmou.