O governo brasileiro rechaçou nesta terça-feira (6) uma sondagem feita pela administração Trump para categorizar o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. A sugestão foi apresentada durante uma reunião em Brasília entre representantes brasileiros e uma comitiva liderada por David Gamble, chefe interino da coordenação de sanções do Departamento de Estado americano.
Participaram do encontro integrantes dos ministérios das Relações Exteriores, Justiça e Segurança Pública e da Polícia Federal. Segundo relatos, os enviados americanos argumentaram que, se o Brasil adotasse essa classificação, os EUA poderiam aplicar sanções mais rígidas contra as facções, uma vez que o sistema penal americano tem penas mais severas para grupos definidos como terroristas.
A equipe americana afirmou ainda que o FBI identificou presença do PCC e do CV em 12 estados dos EUA, incluindo Nova York, Flórida, Nova Jersey, Massachusetts, Connecticut e Tennessee. Segundo eles, as facções têm utilizado território americano para lavar dinheiro por meio de brasileiros que viajam ao país. Como parte do monitoramento, 113 brasileiros tiveram visto negado pela embaixada americana após serem apontados como ligados a esses grupos.
Do lado brasileiro, a resposta foi clara: a legislação nacional não prevê enquadrar facções criminosas como organizações terroristas, já que esses grupos não atuam com motivação ideológica ou política, mas com foco no lucro de atividades ilícitas.
Além disso, autoridades brasileiras destacaram os esforços que vêm sendo feitos para combater o avanço dessas quadrilhas, como o fortalecimento de parcerias com outros países da América Latina, o isolamento de lideranças em presídios federais e operações integradas entre polícias e Ministérios Públicos, com atuação de grupos especializados como os Gaecos (Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).
A comitiva americana incluiu ainda John Jacobs, da Embaixada dos EUA; o adido judicial Michael Dreher; os assessores sênior Ricardo Pita e John Johnson; a conselheira política Holly Kirking Loomis; e o adido policial Shawn Sherlock. Segundo o governo brasileiro, o encontro foi realizado a pedido dos americanos.
Nos Estados Unidos, a preocupação com a atuação de facções estrangeiras tem sido um tema recorrente para Donald Trump, que colocou o combate à imigração e ao narcotráfico no centro de sua agenda. Durante seu governo, Trump já havia declarado emergência na fronteira e classificado cartéis de drogas como organizações terroristas — movimento que agora busca estender às principais facções brasileiras.