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Israel atacou, o Irã retaliou, e o mundo assiste à escalada mais perigosa do Oriente Médio em décadas; entenda

Irã e Israel

Caro leitor, convido-o a refletir comigo sobre a seguinte situação: imagine que eu sou o único detentor de algo que algumas das pessoas mais poderosas do mundo querem. Mas, este algo sendo meu, e sendo sagrado para mim, há de ser preservado. Concorda?

Agora, imagine que esse algo seja Jerusalém.

Para os judeus, a cidade é o centro da fé e da identidade nacional. Para os muçulmanos, trata-se do terceiro lugar mais sagrado do islamismo. E para o Irã, que se vê como a vanguarda do mundo islâmico, Jerusalém é um símbolo que precisa ser “libertado”. Essa é a palavra que usam. Libertar Jerusalém da “ocupação sionista”. É por isso que o regime dos aiatolás tem uma obsessão pela cidade santa: porque ela representa tudo o que eles acreditam estar errado com a atual ordem mundial. Uma ordem, em sua visão, liderada por Israel e pelos Estados Unidos.

No entanto, quando falamos dos poderosos, falamos de governos que não aceitam a contrariedade. Se quero algo, ora, esse algo há de ser meu. E, nesse jogo geopolítico, o Irã está disposto a tudo para alcançar seus objetivos: expulsar os americanos do Oriente Médio, apagar Israel do mapa e derrubar a hegemonia ocidental.

Façamos a nossa reflexão.

A origem de tudo

Para entender o conflito atual, precisamos voltar no tempo. Quando a ONU propôs a criação de dois Estados, um judeu e outro palestino, em 1947, o plano previa a divisão da Palestina britânica. Israel foi criado em 1948. O Estado palestino, não. Desde então, o Oriente Médio virou palco de disputas constantes, muitas delas (a esmagadora maioria) com pano de fundo religioso e territorial. Jerusalém, cidade sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos, sempre foi um dos centros dessa tensão.

Do lado de Israel, o temor existencial é real. Afinal, o país nasceu cercado por vizinhos que não aceitavam sua existência. Do outro lado, estão os palestinos, que até hoje não têm um Estado reconhecido e vivem sob ocupação, bloqueios e constantes ofensivas militares.

“Ok, meu caro… e o que o Irã tem a ver com isso tudo?”, você deve estar se perguntando, talvez já um pouco impaciente. E com razão. Vamos direto ao ponto.

Como eu disse, os aiatolás do Irã, líderes supremos da teocracia islâmica, têm três objetivos bem claros: expulsar os Estados Unidos do Oriente Médio, apagar Israel do mapa e derrubar a ordem mundial liderada pelos americanos. Como sabiam que uma guerra direta com Israel seria suicídio, adotaram uma estratégia indireta: financiar milícias e grupos terroristas como Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica e os Houthis. Essas são as chamadas proxys iranianas.

Funcionava assim: enquanto os líderes iranianos apareciam sorridentes na TV ou em reuniões da ONU, seus aliados atacavam Israel com foguetes e atentados. Isso criava o desgaste que Teerã queria, sem que precisasse sujar diretamente as mãos.

Mas isso mudou.

Israel sabe que, se o Irã tiver uma bomba atômica, o jogo muda completamente. O equilíbrio do terror entra em cena. O que está em jogo aqui é o conceito que, dentro da ciência política, chamamos de “Dilema da Segurança”.

Funciona assim: eu tenho medo de que você me ataque. Então, começo a me armar. Mas você vê meu movimento e pensa: “Olha só, ele está se preparando para me atacar!”. Então, você se arma também. E eu, vendo você se armando, penso: “Tá vendo? Eu estava certo! Eles querem me atacar mesmo!”. E assim, num ciclo de desconfiança mútua, a guerra se torna inevitável.

Israel vive exatamente essa lógica com o Irã. E os Estados Unidos, principais aliados do Estado judeu, também sabem que uma bomba nuclear nas mãos dos aiatolás muda todo o equilíbrio regional; e até global. Por isso, ambos estão dispostos a fazer o que for necessário para impedir o Irã de adquirir esse poder.

Resumindo: os ataques estão acontecendo porque o Irã não pode ter uma bomba atômica, na visão dos judeus.

O ataque que reacendeu o caos

Na última quinta-feira (12), Israel lançou uma das maiores operações de sua história contra o Irã. Bombardeou instalações do programa nuclear iraniano, matou cientistas e generais importantes, incluindo, segundo a imprensa iraniana, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Mohammad Bagheri, e o comandante da Guarda Revolucionária, Hossein Salami. A lista inclui também a morte de pelo menos seis cientistas-chave do programa nuclear, nomes que estavam há anos sob vigilância do Mossad, serviço de inteligência israelense.

A resposta iraniana veio rápido: cerca de cem mísseis balísticos foram disparados contra cidades israelenses como Tel Aviv e Jerusalém nesta sexta-feira (13). Um ataque direto, urbano, com mais de 40 feridos, menos do que o estrago causado por Israel em Teerã, mas com um peso simbólico muito maior.

O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, foi direto: “Israel começou uma guerra”.

Ele está certo? Esperemos para ver os próximos capítulos.

A guerra entre Israel e a proxy iraniana Hamas, iniciada em 7 de outubro de 2023, já havia colocado a região em alerta máximo. Agora, com os bombardeios entre Tel Aviv e Teerã, passamos a um novo patamar. Não estamos mais falando de milícias, de ataques localizados ou de guerras por procuração. Estamos falando de um confronto direto entre dois Estados que possuem alta tecnologia militar, alianças poderosas e motivos profundos para se destruírem.

Israel tem, hoje, cerca de 90 ogivas nucleares. O Irã ainda não tem nenhuma (oficialmente). Mas parece cada vez mais perto de conseguir. E isso muda tudo.

Porque um Irã com a bomba não só altera o equilíbrio de poder, como pode dar confiança ao “Eixo da Resistência”, hoje fragilizado, para agir com ainda mais ousadia. E, como sempre, quem paga a conta são os civis. De ambos os lados.

Fato é: Israel não vai recuar. E o Irã, a princípio, também não. Os Estados Unidos observam, prontos para intervir. A ONU, mais uma vez, mostra sua impotência diante de conflitos assim. A paz parece distante, e o dilema da segurança segue ditando os rumos da guerra.

Resta-nos acompanhar. Entender. E torcer para que o mundo, mais uma vez, não caia na armadilha da destruição mútua garantida.

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