Em 2014, o Brasil atingiu o recorde de 13 milhões de celulares inteligentes vendidos só no segundo trimestre. Em todo o ano de 2013, foram 35,6 milhões. No País que tem mais telefones do que pessoas – são 271 milhões de linhas móveis para 201 milhões de habitantes – algumas empresas estão começando a pensar em como ganhar dinheiro com os aparelhos usados, aqueles que muitas vezes ficam esquecidos na gaveta.
“Muita gente troca o celular após um ano de uso. Esses aparelhos ainda funcionam e podem servir a quem não tem condições de comprar um novo”, afirma o empresário francês Amaury Bertaud. Ele é dono da Recomércio, startup aberta em julho de 2013 com foco na reutilização e também na reciclagem de telefones.
Bertaud atravessou o Atlântico com toda a família (mulher e quatro filhos) para abrir a empresa. Até agora, investiu R$ 200 mil e está colocando mais R$ 800 mil do próprio bolso no negócio. A expectativa é faturar R$ 4 milhões até o fim de 2015. Antes de vir para o Brasil, Bertaud trabalhou no banco Société Générale e foi sócio do fundo de investimentos Nextstage.
Para vender seu celular pela Recomércio, o interessado deve entrar no site e responder algumas perguntas. A partir dessas informações, um algoritmo faz uma estimativa de quanto vale o aparelho, podendo chegar a R$ 1,6 mil. Ele é então enviado pelo correio, passa por uma avaliação, e o usuário recebe o valor acertado. A oficina da Recomércio foi montada na sede de uma cooperativa de reciclagem em São Paulo, a Coopermiti, e a ideia é também ajudar a gerar renda para os cooperados. Os aparelhos que não servirem mais para revenda serão reciclados.
O sistema de compra é semelhante ao de outras empresas no Brasil e no mundo. A Brused, que só trabalha com aparelhos da Apple, tem sede na cidade de São Caetano do Sul (SP) e opera desde novembro de 2013. A empresa já comprou e vendeu cerca de 700 celulares. A cada venda, fica com cerca de 30% do valor. O investimento dos sócios Bruno Fuschi e Eric Fuzitani foi de R$ 50 mil, com expectativa de alcançar receita de R$ 1 milhão neste ano. “O mercado de usados no Brasil ainda é muito informal. As pessoas têm medo de comprar algo quebrado. Quando existe uma empresa por trás, elas ficam mais seguras”, pontua Fuschi.
A venda de aparelhos usados já existe nos Estados Unidos e na Europa. Um dos serviços mais conhecidos é o Gazelle, que afirma já ter feito mais de 2 milhões de transações. Trabalhar com esses revendedores de fora, inclusive, é um dos objetivos da Recomércio. “A ideia é enviar para esses mercados lotes de produtos recuperados do varejo, de fabricantes ou de distribuidores”, afirma Bertaud. Além disso, a empresa tem uma loja no Mercado Livre e está em negociação com sites, atacadistas e varejistas para propor a distribuição de aparelhos seminovos no Brasil. A previsão é recuperar 15 mil celulares até o fim de 2015. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.