O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, enfatizou nesta terça-feira, 15, que o BC tem dito reiteradas vezes que quanto mais houver política fiscal, mais acertada é a condução da política monetária. Ele fez essa afirmação durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicas (CAE) do Senado.
O esforço do governo, segundo ele, é o de mostrar clareza sobre sustentabilidade da dívida. “Esse esforço não está fora do radar de ninguém, nem da equipe econômica”, afirmou.
Inflação
O presidente do BC repetiu no Senado que o objetivo da autoridade monetária é fazer com que a inflação fique dentro dos limites do regime de metas em 2016, cujo teto é de 6,5%, e fazer convergir a alta de preços para centro da meta em 2017.
“É isso que nos propomos e temos trabalhado neste sentido”, afirmou. “Vemos expectativas que mostram uma brutal desinflação (de 2015 para 2016)”, completou, citando as previsões de mercado do Relatório Focus, que estimam uma retração da inflação de cerca de 10,5% em 2015 para 6,8% em 2016.
Não obstante, Tombini lembrou que o regime de metas prevê que em caso de não cumprimento do objetivo em um ano, o presidente do BC escreva uma cara ao ministro da Fazenda e explique os motivos, o que está sendo feito pela autoridade monetária e em que horizonte a inflação convergirá para a meta.
Em resposta as parlamentares, o presidente do BC negou que a política monetária tenha perdido eficiência. “A eficácia da política monetária está impactada por série de choques vividos em 2015, por choques de preços administrados e pela depreciação do câmbio. Ela não perdeu eficiência”, argumentou.
Câmbio flutuante
Tombini reiterou ainda que o regime de câmbio flutuante permanece no País e citou que o real já se desvalorizou mais de 30% este ano em relação ao dólar. “Uma boa parte (desse movimento) é ligada à área internacional e outra parte ligada à área doméstica”, repetiu.
Em audiência pública na CAE do Senado, Tombini argumentou que o ajuste de preços relativos e a recomposição de preços administrados são choques de custo, e não caberia à política monetária compensar efeito primário dos choques. “O que temos proposto desde início do ano é combater efeitos de segunda ordem. A política monetária tem trabalhado para que os efeitos secundários não se propaguem”, completou.
O presidente do BC alegou ainda que os preços livres estão no mesmo nível que estavam em 2010 e que as projeções para preços administrados para 2016 são bastante menores do que em 2015.
Em resposta aos parlamentares, Tombini argumentou que a política monetária não é única responsável pela evolução das taxas de juros da economia. “As taxas de juros também respondem a outras políticas que concorrem para isso”, disse, citando o comportamento das taxas de DI Futuro.
Senadores
Durante audiência pública na CAE, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) tomou a palavra para questionar o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e aproveitou para comentar que o “burburinho” está menor do que o usual na CAE e que a “manhã é de muito desânimo por aqui”. Ele disse que o que mais preocupa a população hoje é a falta de credibilidade do Poder Executivo e previu que a crise se agravará. “O governo se apresenta com esse desânimo”, disse, apontando para Tombini, que já apresentou seu discurso.
Segundo o senador, com a sirene da polícia federal ecoando forte, o clima de tensão também deve ter alcançado o Senado. “Mas temos que cumprir tabela e fazer a nossa parte”, arrematou. Ele lembrou que nos últimos cinco anos as reiteradas promessas do BC de levar a inflação ao centro da meta não foram cumpridas. “O que nos fará acreditar agora sobre os próximos dois anos”, questionou? Ele disse que o tom é de respeito ao “técnico Tombini”, mas enfatizou que o presidente do BC representa um governo que está vivendo “esse inferno astral”.
Logo em seguida, a senadora Gleisi Hofmann (PT-PR) também tomou a palavra, dizendo que ia começar a falar usando um “chiste” com o colega do Paraná: “Talvez a oposição esteja desanimada porque não está conseguindo concretizar o golpe através do impeachment.” Gleisi comentou que as taxas de juros são elevadas no País há muitos anos e que alguns setores chegaram a aplaudir a elevação mais recente feita pelo BC. “Taxa de juros não é um problema atual”, argumentou.
O primeiro senador a fazer pergunta a Tombini foi Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Ele pediu que o presidente do BC comentasse sobre o descasamento entre a política fiscal e a monetária. Solicitou também que Tombini comentasse sobre um projeto de lei que trata da concessão de crédito por órgãos que não precisam ter regulamentação do BC ou do Conselho Monetário Nacional (CMN).
O presidente em exercício da CAE, Raimundo Lira, determinou que a cada três senadores que falem, Tombini responda às perguntas. Ele aproveitou o momento para comunicar o aniversário do “grande e valoroso” senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).