O aguardado balanço do terceiro trimestre de 2014 da Petrobras não foi publicado nesta sexta-feira, 12, como era esperado. No lugar de um material completo, no qual a estatal deveria divulgar dados de lucro ou prejuízo e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), o documento traz apenas uma versão condensada – termo usado pela própria Petrobras – dos números acumulados entre julho e setembro. Dentre as informações, a companhia informou que a receita com vendas atingiu R$ 88,378 bilhões.
Este resultado representa um novo recorde histórico da companhia, superando em 7,4% os R$ 82,298 bilhões acumulados no segundo trimestre deste ano. É, também, 13,7% maior do que os R$ 77,700 bilhões acumulados entre julho e setembro. A média das projeções de sete casas consultadas pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado (Bradesco Corretora, Itaú BBA, JPMorgan, Morgan Stanley, Santander, UBS e Votorantim Corretora) indicava que a receita do trimestre seria de R$ 85,823 bilhões.
A companhia informou, em um breve documento de oito páginas, que o aumento da receita na comparação entre terceiro e segundo trimestres deste ano decorre das maiores exportações de petróleo. Além disso, o aumento da demanda no mercado interno, principalmente do diesel, contribuiu para os números do terceiro trimestre. A favor da companhia, no mesmo período, pesaram o aumento da produção de petróleo e de derivados no Brasil.
A receita trimestral trouxe números robustos, mas a decisão da companhia de não divulgar o balanço na íntegra, mesmo sem aval de auditores externos, evidencia o momento turbulento vivido pela estatal nas últimas semanas, período marcado por denúncias de corrupção e a sinalização de que os problemas internos inviabilizavam a auditoria dos números por especialistas externas.
A estatal adiou a divulgação dos dados do terceiro trimestre em função do escândalo investigado pela Polícia Federal envolvendo ex-diretores da companhia. São alvos das investigações os ex-diretores de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e de Serviços, Renato Duque. O atual presidente da Transpetro, Sérgio Machado, pediu licença do cargo e permanece afastado da empresa desde o dia 3 de novembro. Hoje, novas denúncias informam que representantes da atual diretoria, incluindo a presidente Maria das Graças Foster, foram informados por uma funcionária sobre possíveis irregularidades em contratos e operações da estatal.
Após o anúncio oficial de que a divulgação do balanço do terceiro trimestre seria postergada, contrariando assim o prazo estabelecido de até 45 dias após o fim do trimestre, a Petrobras anunciou a criação de uma diretoria de Governança, Risco e Conformidade. A medida não conseguiu evitar que investidores brasileiros e estrangeiros acionassem escritórios de advocacia em busca de reparação por perdas causadas pelo escândalo. A ação da estatal brasileira foi negociada hoje no menor patamar desde 2005.
Durante as últimas semanas, a Petrobras também antecipou, em comunicado ao mercado, alguns dos resultados operacionais referentes ao terceiro trimestre. A produção de petróleo da estatal no Brasil, por exemplo, atingiu 2,090 milhões de barris por dia (bpd) no período, expansão de 9% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. Já a produção de derivados atingiu 2,204 milhões de bpd, alta de 4% em igual base comparativa.
Por outro lado, a companhia anunciou que não conseguiria cumprir a meta de produção de petróleo para este ano, por isso divulgou novos números considerados mais factíveis. A previsão de ampliar em 7,5% a produção de 2014, com margem de um ponto porcentual para cima ou para baixo (6,5% a 8,5%), foi revista para um horizonte de crescimento entre 5,5% e 6%.
Em meio aos escândalos envolvendo o nome da principal companhia brasileira, a diretoria da Petrobras sempre considerou prioritária a evolução da produção de petróleo no Brasil. Mas, diante da série de escândalos e do adiamento da divulgação do balanço, os rumos da Lava Jato se mostram tão importantes quanto a evolução das atividades das plataformas e sondas. Por isso, a Petrobras contratou os escritórios Trench, Rossi e Watanabe Advogados, no Brasil, e Gibson, Dunn e Crutcher LLP, nos Estados Unidos, para tentar dimensionar os prejuízos da empresa com superfaturamento de contratos. E adiou a divulgação do balanço.
“Em face das atuais denúncias e investigações decorrentes da operação Lava Jato, a companhia não está pronta para divulgar as demonstrações contábeis do terceiro trimestre de 2014. Pois essas denúncias, se confirmadas, podem impactar potencialmente tais demonstrações”, afirmou a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, no mês passado.
Hoje, a escolha da estatal foi pela divulgação apenas de indicadores operacionais e informações econômico-financeiras que não serão afetadas por potenciais ajustes decorrentes das investigações da Operação Lava Jato. Em nota, a estatal explicou que a decisão foi tomada com objetivo de agir com diligência e transparência. As informações apresentadas não foram revisadas por auditores independentes. O balanço não revisado da companhia será publicado até o dia 31 de janeiro de 2015.