Estadão

Temor com juro alto traz cautela e impede ganho do Ibovespa

Renovados temores inflacionários após dados recordes de inflação do Reino Unido e da zona do euro em abril geram certa postura defensiva nos mercados, diante do sentimento de que os bancos centrais terão de promover apertos monetários agressivos, com juros elevados por mais tempo.

Neste ambiente, o Ibovespa cai, em dia de vencimento de opções sobre o índice, após fechar em alta por cinco pregões seguidos. Ontem, fechou com valorização de 0,51%, aos 108.789,33 pontos.

"Ensaiou recuperação nos últimos dias, chegando a se aproximar dos 110 mil pontos 109.773,99 pontos. Hoje tem essa queda, reflexo do exterior, em meio a sinalizações de que o Fed continuará atuando de forma dura em sua política monetária, a fim de equilibrar a inflação", avalia Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos.

Enquanto investidores esperam o inicio do processo de análise para aprovar a privatização da Eletrobras, à tarde, avaliam as palavras de Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), Paulo Guedes (Economia) e Bruno Serra (BC) em eventos. Campo Neto apenas comentou sobre questões climáticas.

Serra disse que se o BC brasileiro precisar subir o juro, dado que a taxa global segue avançando, também o fará. Afirmou, contudo, que a instituição espera "estar chegando ao fim" do ciclo de aperto monetário,

Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, as afirmações não são novidades. "Não se falou nada de novo ou nada que o mercado já não ouviu deles. "Quem está mandando direcionando os mercados é o cenário externo", diz.

A cautela externa vem de dados inflacionários elevados na Europa e após a afirmação do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, feita ontem. Ele diz ver tarefa desafiadora com inflação, mas acredita que economia suportará o aperto monetário. Reafirmou que "não hesitará" em apertar a política monetária, levando a taxa de juros para acima da neutra com o objetivo de conter a alta da inflação.

Depois de subir, o petróleo tem instabilidade. Contudo, as ações da Petrobras cedem desde cedo, bem como as ligadas ao minério de ferro, que desabou mais de 3% em Cingapura, diante de temores em relação a como se dará a retomada da economia chinesa e quão elevados serão os impactos no mundo. Xangai, capital financeira do país, planeja levantar as restrições contra a covid-19 gradualmente. Ações ligadas ao setor metálico sofrem e, consequentemente, o Ibovespa.

"Evidentemente tem o fato de que alguns papéis estão baratos", diz Brito, da Finacap. O Ibovespa, acrescenta, segue bastante suscetível ao investidor estrangeiro, que tem feito retirada, respondendo à política de juros nos Estados Unidos. "Aqui, discute-se a estabilidade da Selic em nível alto ou até mesmo algum alívio monetário à frente, o que pode beneficiar"

Ontem, o Senado deu aval, por 53 votos a 16, ao despacho gratuito de bagagem na aviação comercial, contrariando os esforços do Planalto e das companhias aéreas. Além disso, fica no radar a tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e Suprema Corte. Bolsonaro entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro Alexandre de Moraes por abuso de autoridade.

Sobre a Eletrobras, um aval do TCU à privatização pode ajudar as ações da empresa, que acumulam alta de mais de 30% neste ano. Por meio da operação, a União diminuirá sua participação na estatal de mais de 60% para cerca de 45% com a oferta de mais ações. Hoje, caem acima de 1%

O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, sinalizou que pretende fazer a oferta de ações da estatal até quarta-feira que vem, com liquidação prevista para 9 de junho, caso a Corte dê sinal verde hoje para a operação.

Às 11h17, o Ibovespa cedia 0,85%, aos 107.869,64 pontos.

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