Saúde

Criança entra no HMC para tratar de pneumonia e tem o dedo do pé amputado

Por apresentar vasos muito finos, o pé não suportou a medicação, formando a "bolha de soro"

Um bebê de dois meses teve o dedão do pé direito amputado no Hospital Municipal da Criança (HMC), depois de ter ingressado no local com pneumonia. O caso acontece no mesmo período em que o HMC passa por sindicância da Secretaria Municipal da Saúde e está sob investigação do Ministério Público do Estado (MPE) de São Paulo pela morte de 14 crianças em dois meses.

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Wallas Kevin Conceição dos Santos deu entrada no HMC no último 11 de junho com pneumonia grave. Sem vagas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis na cidade, o bebê ficou em um espaço improvisado na emergência. Depois, quando o tratamento teve início, ele veio a apresentar o problema no dedo. A UTI do hospital foi interditada há um mês pelo Centro de Vigilância Sanitária (CVS), órgão vinculado ao Governfo do Estado.

O bebê ficou três dias no HMC, foi transferido por uma semana para a UTI do Hospital de Francisco Morato e retornou para a instituição de saúde guarulhense. Na quinta-feira passada, a primeira falange do dedão do pé direito foi retirada por uma suposta necrose.

A mãe de Wallas, a dona de casa Joyce Naraissa da Conceição, 25 anos, diz que se arrepende de ter levado o filho para o HMC quando ele ficou doente. Por não contar com convênio médico, precisou usar o serviço público. "Achei que ele sairia sem faltar nenhum pedaço. Ninguém espera levar uma criança para o médico e ela perder o dedo do pé", desabafa.

Segundo o vereador Eduardo Carneiro, que também é médico, a amputação no caso de uma criança é algo grave. Ele afirma que buscará informações sobre os procedimentos adotados no atendimento. Carneiro tenta há um mês instaurar uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara Municipal para investigar as mortes no HMC. Dos 11 votos favoráveis necessários entre 34 parlamentares, ele conseguiu somente oito. "O clima de insegurança é grande na cidade com esses casos", diz.

Até a conclusão desta edição Wallas continuava internado e sem previsão de alta. Joyce diz que a área amputada apresentava pus e teme que o filho tenha que passar por nova intervenção cirúrgica.

Saúde admite problema, mas diz que não há erro

A Secretaria Municipal da Saúde afirma que o tratamento a Wallas Kevin Conceição dos Santos, de dois meses, que teve o dedão do pé direito amputado na semana passada, foi correto tecnicamente e que não houve erro médico, nem de equipamentos, falta de assistência ou negligência.

Em nota, a pasta afirma que o bebê deu entrada no HMC com pneumonia gravissíma e infecção pulmonar. A equipe médica do HMC utilizou os vasos do pé para aplicar a medicação de sedação, já que os acessos aos vasos sanguíneos mais grossos foram utilizados para combater a infecção pulmonar. "No entanto, por ter apresentado vasos sanguíneos muito finos no pé, estes não suportaram o medicamento, extravasando o soro e formando o que tecnicamente é conhecido como "soroma" (bolha de soro com medicamento)", aponta.

Antes de ser transferida para Franscisco Morato, a criança já apresentava sinais de cianose no dedão do pé direito. Quando o bebê retornou, o HMC acionou o cirurgião vascular, que estabeleceu as medidas para a redução da área atingida e, ao terminar o tratamento com antibióticos para a pneumonia, foi agendada a cirurgia para a retirada da primeira falange do dedão do pé direito, sendo preservado todo o restante do dedo, em razão das medidas estabelecidas.

Segundo a Secretaria, Wallas foi mantido em quarto separado para que não houvesse infecção no dedo. "O quadro do paciente está evoluindo bem, de acordo com o esperado. Ele está recebendo acompanhamento integral da equipe médica que o assiste, composta por cirurgião vascular, ortopedista, infectologista e pediatras", afirma.

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