Enquanto as principais concorrentes sofriam os efeitos da Lava Jato, a Aegea – empresa de saneamento básico – crescia em ritmo chinês. Com Odebrecht Ambiental e CAB Ambiental fora do páreo por causa do envolvimento de suas controladoras (Odebrecht e Galvão Engenharia, respectivamente) no escândalo de corrupção, a companhia abocanhou o que viu pela frente. De 2014 para cá, o número de municípios atendidos pela empresa subiu de 35 para 48 e a população atendida mais que dobrou, de 2,6 milhões para 5,4 milhões.
O avanço foi alcançado com aquisições de empresas e por meio de licitações municipais, o que garantiu à companhia uma fatia de quase 24% do mercado privado de saneamento. Atualmente, a Aegea é a segunda maior do setor, atrás apenas da Águas do Brasil – empresa que tem como sócio o grupo de construção Carioca Christiani Nielsen (em novembro, ela comprou a fatia da Queiroz Galvão na empresa), também envolvido na Lava Jato.
Um dos trunfos da companhia está na composição acionária, formada por instituições de peso. A Aegea é controlada pela Equipav, grupo que detém participação em vários setores, como açúcar e álcool, mineração, engenharia e concessões de infraestrutura. O diferencial, no entanto, está na participação do fundo soberano de Cingapura GIC e do Internacional Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial – o que ajuda na captação de recursos no Brasil e no exterior. Em setembro, a empresa lançou R$ 155 milhões em debêntures e, em outubro, US$ 400 milhões em bonds.
Dinâmica. “Acredito que a estrutura societária forte vá garantir a ampliação da Aegea no mercado”, avalia o diretor da agência de classificação de riscos Fitch Rating, Gustavo Mueller. Para ele, a Lava Jato deu uma dinâmica maior ao setor de saneamento com a mudança de mãos de importantes empresas do setor. A Odebrecht Ambiental foi vendida para a Brookfield e virou BRK. A CAB também deixou de ser controlada pela Galvão e agora se chama Iguá. Isso acaba abrindo espaço para as demais concorrentes, como a Aegea, que faturou quase R$ 1 bilhão até setembro de 2017 – volume 30% superior ao de 2016.
No ano passado, a empresa assinou contrato para ampliar e operar o sistema de esgotamento sanitário de Vila Velha (ES) e para universalizar os serviços de água e esgoto de Teresina (PI). “Há cinco anos, estamos crescendo num ritmo de 20% ao ano. Temos de consolidar tudo isso, o que representa elevar os investimentos”, diz o presidente da Aegea, Hamilton Amadeo. Segundo ele, este ano, a empresa investirá R$ 600 milhões.
O executivo afirma que há algumas oportunidades de aquisições no mercado e licitações para ocorrer. Na semana que vem, por exemplo, o município de Erechim, no Rio Grande do Sul, deve abrir as propostas das empresas para assumir os serviços de água e esgoto da cidade. O valor do contrato está estimado em R$ 2,1 bilhões.
Apesar do enorme potencial de investimento, o setor de saneamento ainda tem baixa participação privada, de apenas 7% do mercado. O restante é dominado por estatais estaduais e pelos municípios. Endividadas e sem capacidade de investir, essas empresas têm adotado uma nova fórmula para amenizar as pressões da sociedade pela ampliação do abastecimento.
Uma das saídas tem sido as subconcessões, ou seja, elas fazem licitações e fecham contratos com empresas privadas para operaram a rede. “O governo quer pressionar os municípios para atenderem as metas de atendimento. Isso deve estimular o avanço da iniciativa privada no setor”, diz o advogado da Azevedo Sette, Frederico Bopp Dieterich, referindo-se a um decreto de 29 de dezembro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.