Economia

Barros: apesar de incentivo, crise na indústria é grande

O ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, avaliou que o Brasil vive um paradoxo no desenvolvimento da indústria. Durante participação em evento da série Fóruns Estadão – Brasil Competitivo, ele considerou que nunca na história se fez tanta política para a indústria e, ao mesmo tempo, nunca a crise do setor foi tão grande.

“Temos uma dosagem e uma variedade de políticas sem precedentes, com crédito subsidiado em doses maciças e operações de participação do BNDESPar em grande escala”, afirmou. “No entanto, a indústria nunca esteve numa crise tão grande, o que mostra que algo está errado”, disse.

Mendonça de Barros avaliou que políticas específicas para a indústria não têm tido efeito porque há questões macroeconômicas que precisam ser abordadas. “Se a política macro vai mal, não tem como a política setorial compensar, isso está na base de boa parte das políticas setoriais que o governo fez recentemente”, declarou.

O economista considerou que as isenções temporárias de tributos não têm tido o efeito desejado e defendeu um processo mais amplo de simplificação tributária. “Se não tivermos uma simplificação, não tem como haver retomada factível do crescimento da economia”, declarou. “A isenção temporária de tributos cria incertezas, não ajuda o setor produtivo e ainda atrapalha o Tesouro”, concluiu.

Outro ponto citado como crítico por Mendonça de Barros foi a questão energética. Para ele, houve um retrocesso porque os industriais não podem mais contar com o fornecimento de energia tradicional e muitos optam por ter um sistema próprio de geração. Ele ainda criticou o que considerou um excesso de proteção à indústria nacional. “Esse excesso de suporte danifica a produtividade, inibe os esforços de tentativa e erro que geram a inovação”, comentou.

A exemplo de outros palestrantes presentes ao evento, Mendonça também avalia que o País não vai crescer sem a indústria, já que ela está associada ao grosso do avanço tecnológico em todas as economias. “A revolução tecnológica do mundo é de software, de inteligência, de conhecimento, não de hardware, de máquinas. Muito mais importante que soldar chapa para fazer casco é saber como opera o navio”, comentou, ao ressaltar a necessidade da indústria brasileira apostar em inovação e competitividade.

Segundo Mendonça de Barros, mesmo em alguns setores nos quais o Brasil consegue ser competitivo, políticas equivocadas do governo prejudicam a sustentabilidade das empresas. Um dos casos mais emblemáticos é o setor automotivo. Se todos os investimentos previstos se concretizarem, em 2017 a capacidade de produção chegará a 7,1 milhões de veículos, o dobro do mercado interno e das exportações brasileiras, que chegam a 3,5 milhões de unidades. “Garantimos uma enorme crise no setor automotivo pela ambição de botar muro de proteção enorme para as empresas que atuam aqui”comentou. Para ele, o setor de estaleiros navais vai no mesmo sentido.

O economista aponta que atualmente a agricultura é praticamente o único setor competitivo da economia brasileira, justamente por estar ligada aos processos produtivos globais. “O agricultor rapidamente aprendeu que ganha dinheiro quem inova”, afirmou.

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