Com o câmbio mais favorável e o mercado interno em queda, exportar é uma das poucas alternativas para empresas brasileiras. Há um movimento intenso em vários setores para recuperar mercados perdidos. A reação ainda não aparece na balança comercial, que aponta queda de 8% nas vendas externas de manufaturados neste ano em relação ao anterior, mas já anima segmentos industriais.
O movimento ainda não será suficiente para reverter o déficit na balança de manufaturados mas, pelas contas da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o saldo negativo será menor este ano. “Devemos sair de um déficit de US$ 109 bilhões em 2014 para US$ 82 bilhões”, calcula o presidente da AEB, José Augusto de Castro. “O Brasil ficou muito tempo fora de mercados importantes, como Estados Unidos, e o retorno não é imediato.”
Várias empresas, contudo, já estão se beneficiando da desvalorização do real, de 28% até agora, além do desempenho favorável do mercado americano e de economias dolarizadas.
Há dez anos, a fabricante de ônibus Marcopolo perdeu um importante cliente externo, o Oriente Médio, para onde mandava 1 mil veículos por ano. A empresa chegou a desenvolver ônibus especiais para a região, com teto removível para transportar peregrinos a Meca, na Arábia Saudita, que precisam sentir o sol na cabeça.
Nos últimos anos, perdeu os contratos para grupos asiáticos. Agora, com o movimento oposto do dólar, a Marcopolo conseguiu um primeiro pedido de 20 ônibus para Omã. “O volume ainda é pequeno, mas é significativo voltar a esse mercado”, diz Ricardo Portolan, gerente de exportações. “É um sinal concreto de retomada.”
No auge do comércio internacional, a Marcopolo exportava 6 mil ônibus por ano, volume que caiu para 2 mil em 2014. Com a melhora cambial, Portolan aposta em crescimento de 10% a 20% neste ano. No primeiro semestre, a empresa já exportou 12% a mais que em 2014.
Para Portolan, o dólar a R$ 3,20 ajuda mas, nesse patamar, a recuperação será mais lenta, com crescimento anual de 10% a 20% nas exportações. A R$ 3,50, o aumento atingiria 30% a 40%. “É um valor que pode compensar a inflação alta e custos de infraestrutura e logística que oneram nosso produto.”
A fabricante de móveis Artefama exportava 100% de sua produção para os EUA e Europa. A partir de 2008, ao perder clientela externa, focou também o mercado interno, que passou a responder por 30% da produção. O dólar atraente levou a empresa a voltar a correr atrás de clientes que havia perdido e as exportações cresceram 25% neste ano, para US$ 12 milhões.
“Tivemos de investir R$ 5 milhões em maquinário de corte de madeira”, informa Angelo Luiz Duvoisin, superintendente da Artefama, com fábrica em São Bento do Sul (SC).
A Treboll, outra fabricante de móveis em Flores da Cunha (RS), exporta 80% da produção e deve vender 20% a mais neste ano. “Com dólar a R$ 3,20, R$ 3,30 dá para ganhar dinheiro”, diz o diretor financeiro, Alberto Peliciolli. Até o ano passado, vários clientes foram mantidos “no sacrifício, com prejuízos”. As vendas caíram, mas agora ocorre uma “retomada forte”. A principal cliente é a rede de varejo Marks & Spencer.
Com o aumento da demanda, a Treboll teve dificuldades em entregar pedidos e pagou US$ 22 mil em multa por atraso. “Este ano estamos com a produção toda tomada”, diz Peliciolli. A empresa está investindo US$ 1 milhão em modernização, centro de usinagem e área de pintura. Foram contratados 25 funcionários e o quadro hoje é de 285 pessoas.
Margem
“Hoje temos margem de negociação e estamos prospectando novos clientes e procurando clientes do passado”, diz Renato Bitter, diretor da Savyon, fabricante de tecidos. Até 2005, 70% da produção no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, era exportada, fatia que hoje é de 30%. O objetivo é elevar para 50% em dois anos. Os maiores clientes são EUA, Canadá e Alemanha.
O câmbio deu novo ânimo a uma leva de empresas do setor têxtil. Pesquisa feita em julho pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) mostra que 85% das empresas consultadas querem retomar ou iniciar exportações. No fim de 2014 esse porcentual era de 50%.
Segundo José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, o câmbio é importante, mas, sem inovação, exportar é difícil. “E inovar leva pelo menos dois anos, por isso quem está conseguindo exportar são empresas que já estão preparadas.”
A fabricante de pastilhas de freios Federal Mogul aumentou em 31% o volume de exportações no primeiro semestre e conquistou clientes em três novos mercados – Chile, Paraguai e Uruguai. “Estamos buscando outros mercados na América do Sul pois os preços voltaram a ser atrativos”, diz o diretor-geral José Roberto Alves.
“Neste momento só nos resta atacar a exportação, pois não há o que fazer para aumentar os volumes internos”, diz Odair Renosto, presidente da indústria de máquinas Caterpillar. A dificuldade, diz ele, “é que competimos com países que também estão desvalorizando suas moedas, mas não têm inflação tão alta, além de aumentos de custos com energia, matéria-prima e mão de obra”.
Uma das medidas que a Caterpillar adotou para reduzir custos logísticos foi exportar produtos em contêineres e não mais pelo sistema roll-on roll-of. “Há navios de contêineres partindo semanalmente do Brasil para os EUA, enquanto a frequência de navios roll-on roll-of é a cada 15 dias.” Com isso, um dos gastos cortados é com armazenagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.