O IPCA de maio, que mostrou alta de 0,74% ante abril, acima do teto das projeções (0,68%), concretiza as apostas de que o Banco Central terá de elevar a Selic em mais 0,5 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, segundo o chefe do Departamento Econômico da Garde Asset Management, Daniel Weeks. Para ele, o atual ciclo de aperto monetário deve levar a taxa básica de juros ao pico de 14,5%, pelo menos.
Para Weeks, o IPCA de maio não permite de forma alguma o BC sinalizar uma mudança na política monetária. “Se o BC sinalizar alguma mudança, largar o osso desse jeito, vai rasgar todo trabalho duro feito até agora e jogar tudo por ralo abaixo”, afirma. Segundo ele, a ata da última reunião, que será divulgada amanhã, não deve trazer grandes mudanças. O importante é ver se a autoridade monetária manterá a afirmação de que os ajustes feitos até agora ainda não suficientes e é preciso manter-se vigilante.
Ao contrário de muitos economistas, o analista da Garde também não espera grandes pistas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), até porque ele será divulgado quase um mês antes da reunião de julho do Copom, ou seja, muita coisa pode mudar até lá.
Segundo Weeks, uma das grandes surpresas no IPCA de maio foi o grupo Alimentação, que acelerou para 1,37%, na margem, respondendo por 0,34 pp do índice cheio. “Foi uma alta generalizada, com vários índices abrindo. Não dá para culpar só o tomate. Se cada hora a gente acha um vilão diferente, é porque tem alguma coisa errada”, comenta. Só o tomate ficou 21,38% mais caro, respondendo sozinho por 0,07 pp do IPCA. Ele aponta que energia elétrica (que colaborou com 0,11 pp do índice cheio) também subiu muito, mas o movimento era mais previsível.
De acordo com o economista da Garde, a inflação resiste em ceder, mesmo em meio ao cenário de atividade econômica muito fraca, porque as pressões de custos nos últimos meses foram muito fortes. No acumulado em 12 meses, a energia elétrica, por exemplo, sobe quase 60%. “A demanda está fraca, mas a inflação de custos foi tão forte que tem efeitos secundários. Nós tivemos um tsunami de inflação ali atrás, e são insumos importantes para toda a cadeia produtiva”.
Na sua avaliação, isso mostra que certamente o BC não está conseguindo conter os efeitos secundários dos ajustes de preços relativos, em especial o aumento nos administrados. “Quando a gente olha a inflação corrente, sob qualquer ótica, vê que o trabalho do BC está longe de ser finalizado”.
Weeks, que já tinha uma projeção mais alta do que a média do mercado para o IPCA de junho, diz que está revisando suas estimativas, que devem subir para algo perto de 0,60%. No fechado do ano, o economista vê a inflação a 9,0%.