A Igreja Católica tem um novo papa: Robert Francis Prevost, o Leão XIV, de 69 anos. Escolhido pelo conclave nesta quinta-feira (8), o pontífice norte-americano terá a difícil missão de administrar a Igreja em um momento em que fortes tensões pairam pelos quatro cantos do mundo. De linha franciscana, Leão XIV promete dar continuidade ao legado de papa Francisco, com quem tinha forte alinhamento.
No entanto, o fato de Prevost ser o primeiro norte-americano da história a ascender como líder máximo da Igreja tem gerado calorosos debates dentro do cenário geopolítico, dada a grande influência já exercida pelos americanos no mundo. Contudo, da mesma forma como Francisco era descrito frequentemente como o “argentino mais europeu possível”, Leão também tem sido tratado como o “americano menos americano de todos”; isso porque o papa exerceu grande parte de seu trajeto religioso no Peru, na América Latina, onde se tornou bispo e se naturalizou cidadão.
Para entender essa dinâmica e seus impactos no Brasil e ao redor do mundo, o GWeb procurou a Catedral de Guarulhos, onde foi atendido pelo padre Bosco, que afirmou ter recebido a notícia do novo líder da Igreja “com surpresa e alegria, mas não com estranhamento”. Para o clérigo guarulhense, “a Igreja não é circunscrita a um país, de modo de não existe papa estrangeiro, pois não há estrangeiros na Igreja; todos os cristãos membros da Igreja são família de Deus, peregrinos até à casa do Pai”.
Bosco destaca, ainda, que o novo pontífice tem sólida formação teológica e larga experiência pastoral, além de conhecer muito bem a estrutura organizativa da Igreja. Para o padre guarulhense, apesar da sucessão papal, não deve haver mudanças significativas no modo como a Igreja é conduzida. Pelo menos não imediatamente.
“As mudanças na Igreja ocorrem conforme as necessidades pastorais, procurando manter a fidelidade a Jesus e ao Evangelho. A Igreja caminha em processo, não há mudanças repentinas, a não ser em caso de urgências, mas qualquer mudança significativa é tomada à lua do Espírito Santo e o povo de Deus deve ser ouvido. Essa é a tradição da Igreja, conforme se lê em Atos dos Apóstolos cap. 15”, afirma Bosco.
Impactos do novo pontificado
Em um cenário global marcado por conflitos, papa Leão já deu sinais claros de que seu pontificado será marcado pelo diálogo e conciliação, tal qual fazia seu antecessor, Francisco.
“Devemos buscar juntos como ser uma igreja missionária, que constrói pontes de diálogo, sempre aberta a receber, como essa praça, a todos, a todos que precisam de nossa caridade, nossa presença, de diálogo de amor”, declarou o papa diante de milhares de fiéis no Vaticano. “O mundo precisa de pontes com diálogo, encontro, unindo-nos todos para ser um povo em paz. Obrigado, papa Francisco”, disse, lembrando das últimas falas do falecido pontífice, na Páscoa, um dia antes de sua morte.
“A todos vós irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo, queremos ser uma igreja sinodal, que busca sempre a caridade, que busca sempre estar próxima daqueles que sofrem. Que a paz esteja convosco”, afirmou. Ele também lembrou as palavras de Santo Agostinho: “Para vocês sou bispo, mas com vocês, sou cristão”.
Para padre Bosco, o fato de os olhos do mundo estarem voltados para o Vaticano, em razão do funeral do papa Francisco e da eleição do novo pontífice, faz com que surja a oportunidade de interagir com pessoas interessadas nos mais diversos assuntos referentes à Igreja, a Jesus e aos apóstolos.
O GWeb também questionou se um novo papa poderia impactar o diálogo da Igreja com os jovens e com as periferias urbanas, como, por exemplo, as encontradas em Guarulhos, mas o padre acredita que não.
“Não vejo um impacto direto e imediato, pois a Igreja tem um longo caminho de presença junto às periferias. O centro da Igreja não é o Vaticano, nem o Papa, que tem uma importância fundamental para sua unidade, sem dúvida. O centro da Igreja é Jesus Cristo. O Papa é seu representante na terra, sucessor do apóstolo Pedro, aquele que nos confirma na fé e no seguimento de Jesus. Em cada pequena comunidade cristã reunida em nome do Senhor, e unida ao Papa e ao Bispo, celebrando a palavra e a Eucaristia, aí está plenamente a Igreja”.
Catedral de Guarulhos, fundada em 1665 no coração da cidade
Ao final da entrevista, o GWeb perguntou a Bosco qual mensagem ele acredita que Deus quis transmitir à Igreja com a escolha do novo pontífice. Confira abaixo, na íntegra, a resposta do padre guarulhense.
“A Igreja é simbolizada pela barca de Pedro, mas quem dirige a pescaria é Jesus. A pesca simboliza a evangelização. A Igreja é de Jesus, não é uma organização humana simplesmente, mas é o sinal do reino de Deus na terra. O Papa age em continuidade à longa tradição da Igreja.
Na sua primeira homilia, neste dia 9 de maio, pela manhã, na Capela Sistina, o Papa Leão afirmou que a profissão de fé do Apóstolo Pedro: ‘Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo’ diante da pergunta de Jesus: ‘para vós quem sou eu?’ é o patrimônio que há dois mil anos a Igreja preserva, aprofunda e transmite através da sucessão apostólica. Ou seja, Jesus é o único Salvador e o revelador da face do Pai. Disse o Papa: ‘Este tesouro agora ‘é confiado também a mim, para que eu seja um fiel administrador a favor de todo o Corpo místico da Igreja, de modo que esta seja sempre mais cidade colocada sobre o monte (cfr Ap 21,10), arca de salvação que navega através das ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo. E isso não tanto pela grandiosidade de suas estruturas, mas pela santidade dos seus membros’.
Antes de concluir sua homilia dessa manhã, o Papa citou a frase de Santo Inácio de Antioquia ao se encaminhar para o seu martírio: ‘Então serei verdadeiro discípulo de Jesus, quando o meu corpo for subtraído à vista do mundo’ (Carta aos Romanos, IV, 1). Essas palavras, afirmou o Papa, recordam um compromisso irrenunciável para quem, na Igreja, exerce um ministério de autoridade: desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de O conhecer e amar. ‘Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, Mãe da Igreja”.