A entrada crescente de produtos siderúrgicos importados no Brasil e a assinatura, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um memorando que autoriza a investigação comercial sobre importação de aço no país poderão pressionar ainda mais o governo brasileiro a colocar em pauta a discussão de medidas protecionistas, como uma ação antidumping para o aço chinês e russo. A medida já está há algum tempo em discussão no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
“Estamos vivendo em um cenário conturbado na siderurgia, com um excesso de capacidade de 770 milhões de toneladas de aço globalmente. Com isso, estamos observando diversos países se movimentando para defender seus mercados”, diz o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes. Segundo ele, essa é uma estratégia que está sendo realizada por todos os países, e o Brasil deveria ficar atento a esse movimento, no sentido de proteger seu mercado interno.
De um lado, Lopes defende que o governo trabalhe no sentido de elevar a competitividade das siderúrgicas na exportação, ampliando, por exemplo, a alíquota do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra) para 3%. De outro, o executivo diz que o governo precisa aprimorar seu sistema de defesa.
O Brasil é o nono produtor mundial de aço, segundo dados da Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês), com 30,2 milhões de toneladas em 2016, ou 1,9% do total produzido mundialmente. Os Estados Unidos ocupam a quarta colocação, com 78,6 milhões de toneladas e 10% do mercado global. A China é o maior fabricante global, com 808,4 milhões de toneladas produzidas em 2016, ou 49,6% do mercado.
Na prática, a adoção de uma eventual barreira dos Estados Unidos ao aço de origem de outros países não deve afetar de forma mais relevante o Brasil, visto que o País já foi afetado, no ano passado, por uma medida antidumping americana. Hoje, essa medida afeta a exportação de chapas grossas, laminados a quente e laminados a frio do Brasil para os Estados Unidos. Está liberada apenas a venda de aço revestido. No ano passado, o Brasil exportou 13,4 milhões de toneladas de aço, o que representou queda de 17% em relação ao ano anterior. Desse total, 34% foram destinados aos Estados Unidos.
“Já estamos praticamente fora do mercado americano”, diz o presidente da Usiminas, Sergio Leite. Segundo ele, o impacto será colateral, visto que o aço chinês que deixar de ser vendido nos Estados Unidos será desviado a outros países, com o Brasil podendo estar nessa rota. A Usiminas exportou, em 2016, 477 mil toneladas, queda de 64% ante o visto em 2015. Os Estados Unidos foram o destino de 14% desse total.
Em julho do ano passado, a Secretaria de Comércio Exterior, ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), iniciou uma investigação para averiguar suposta existência da prática de dumping nas exportações de aço plano laminado a quente da Rússia e da China para o Brasil. O processo foi aberto após denúncias enviadas pelas usinas. O presidente da Usiminas acredita que essas medidas antidumping saiam no início do segundo semestre deste ano.
Fluxo
As importações de aço no Brasil têm crescido neste ano e a preocupação aumentou ainda mais com a diferença do preço do aço nacional em relação ao importado subindo para cerca de 30%. Em março, por exemplo, as importações de aço pela rede de distribuição alcançaram 110,1 mil toneladas, alta de 118% na comparação anual e de 85,3% frente ao mês imediatamente anterior, de acordo com dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.